Um dos músicos mais conhecidos e atuantes da cena
curitibana,
o baterista Ivan Rodrigues falou ao Curitiba Lado B sobre
seus projetos,
opiniões a respeito da música na cidade, e da super banda
Gripe Forte,
que estreia amanhã no Empório São Francisco.
No
papel, será o primeiro show da banda. Simples assim, como qualquer outra, que
ainda não tocou para o povão, sobre algum dos inúmeros palcos da cidade. Mas ao
mesmo tempo que Gripe Forte fará a sua apresentação inaugural nesta
quarta-feira, no Empório São Francisco, os seus integrantes proporcionarão ao
público, uma espécie de viagem no tempo. Nostalgia das melhores. Fábio Elias e
Giovanni Caruso, que em outros tempos, “a bordo” de Faichecleres e Relespública
ditaram o ritmo de quartas-feiras (!) épicas naquele mesmo Empório, agora se
juntam a Oneide Diedrich – Pelebrói Não Sei? - e a Ivan Rodrigues para, através
da Gripe Forte, prestar um tributo a bandas que ajudaram a construir (e que
eles ajudaram a construir) a história do róque paranaense. Além das três já
citadas, quem também ganhará versões de suas canções no show é o Blindagem,
cujo lendário e saudoso frontman, Ivo Rodrigues, é pai do, há pouco mencionado,
Ivan. Este, por sua vez, concedeu entrevista ao Curitiba Lado B falando das
expectativas sobre a Gripe Forte, da cena local, e claro, dos inúmeros projetos
que contam com suas baquetas, e fazem dele um dos músicos mais atuantes da
capital paranaense.
Por mais clichê que seja a pergunta – principalmente
para a primeira da entrevista – não dá para fugir dela: de quem, e como, surgiu
a ideia de montar a Gripe Forte?
A ideia foi sugerida pelo fotógrafo e músico Marcelo
Stammer (C4), numa conversa no próprio Empório São Francisco, provando que é
possível fazer um show inteiro, só com músicas curitibanas. E só com hits.
O projeto coloca, em cima de um mesmo palco, bandas
locais (claro que não integralmente) que mudaram a vida de muita gente por
aqui. Logo, não será um tributo qualquer. Sob esse ponto de vista, qual é a
responsabilidade de subir lá, e ser intérprete de uma galera tão importante
para a música de Curitiba?
Olha, pra mim, que sou único não compositor da banda, é
muito especial. Tenho uma relação muito forte com todas as canções do set list.
Somar 3 bandas que sempre fui fã, às vezes roadie, às vezes baterista “step”
(como aconteceu com a Relespública, uma vez que o Moon precisou se recuperar de
uma cirurgia nos olhos), e agora me ver no palco com eles, tocando as músicas
com os próprios compositores, é muito foda. Somado a isso poder homenagear e
representar o meu pai, e o Blindagem, tocando músicas que fazem parte da minha
vida, desde a minha lembrança mais antiga, você pode imaginar o frio na
barriga.
Já há mais datas acertadas com o próprio Empório São
Francisco, ou em outras casas? Ou num primeiro momento deverá ocorrer um único
show?
Não é só um show, não. A ideia inicial é fazer uma festa
mensal no Empório e vender esse show para o interior do estado também.
Há quem brinque que, caso você pare de tocar, metade das
bandas da cidade encerrariam as suas atividades, tamanha é a quantidade de
trabalhos e projetos dos quais você faz parte. Participando de tanta coisa,
vendo e ouvindo tanta gente diferente, qual seria o seu “raio x” sobre a cena
autoral local, no comecinho dessa segunda década do Século XXI?
(Risos) Fico lisonjeado com a brincadeira. Eu trabalho
em 3 bandas autorais, e ativas: Escambau, Magaivers e Mordida. Meu "raio
x" da cena autoral local é otimista, sendo que muitos trabalhos me fazem
sair de casa, e pagar ingresso, para assistir ao vivo, a artistas como
Crocodilla, Trem Fantasma, Uh La La, entre outros. A única crítica que poderia
fazer é dizer que sinto falta do famoso "hit", aquela música que
todos, desde o mais leigo que caiu, sem querer, no show, até os fãs que
acompanham tudo sobre a tal banda, saibam o refrão. Aquele momento do show para
abaixar a dinâmica da banda, e deixar a galera cantar. Isso eu sinto falta nas
bandas novas.
Na própria divulgação do show desta quarta-feira, já se
ficou sabendo que rolarão, também, músicas do Blindagem. Como é a sua relação com
os demais membros da banda atualmente?
Muito boa, eles são como uma família para mim. Não só
eles: também os seus os filhos, as esposas. Sempre que podemos, eu e minha mãe,
vamos acompanhar algum show da banda, e matar um pouco da saudade.
Recentemente a Revista O Rato veiculou uma matéria onde
vários artistas da cena local deram os seus pareceres sobre o velho dilema,
“música autoral versus música cover”. Um dos depoimentos ali era seu, pendendo
bastante para a necessidade de se valorizar a música autoral. A Gripe Forte, em
sua essência, é um tributo, mas um tributo prestado a bandas locais, com gente
que fez, ou faz, parte das mesmas – diferentemente da 99% do que se vê em
matéria de música cover por aqui. Como você enxerga esse paradoxo?
É diferente. Quando o compositor da canção está no palco
executando sua música, não é cover. Sim, quando tocamos Blindagem pode ser, mas
prefiro encarar como homenagem, afinal eu sou o filho do compositor das músicas
que vamos tocar.
Ainda na esteira da pergunta anterior: é possível se
viver de música autoral em Curitiba, na atual situação da cidade?
Claro que sim. Para o compositor é. Grave suas músicas,
monte sua banda e vá a luta. Se tiver qualidade, vai dar certo. No meu caso,
como sou baterista, tento ser o braço direito do compositor, nesses casos.
Tenho a sorte de trabalhar com os 3 compositores que mais admiro em Curitiba
(Paulo de Nadal, Giovanni Caruso e Rodrigo Porco), e por isso consigo me virar,
mas ainda me vejo obrigado a preencher minha agenda com shows cover para
reforçar meu orçamento – e também não vejo mal nenhum nisso.
No início do ano, a “pasta” da Fundação Cultural trocou
de mãos. Quais seriam, na sua opinião, as atitudes mais urgentes, mais
imediatas, que teriam de ser tomadas por essa gestão, em relação à musica,
feita e produzida, em Curitiba?
Olha, para ser sincero, eu não estou tão por dentro do
que acontece lá dentro da Fundação. Mas não vejo com pessimismo, não. Mesmo na gestão anterior, vi e participei de
muitos projetos da Fundação, e espero que a nova gestão dê continuidade a isso.
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Serviço:
O que? Estréia da banda Gripe Forte
Local: Empório São Francisco
Quando: Amanhã, dia 20/02. Abertura da casa às 21h.
Quanto: Masc $20 / Fem $15 - Com bonus: Masc $15 / Fem $10.