segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Vídeos Curitiba Lado B: Feliz Natal com a Crocodilla


Em um vídeo descontraído, a banda curitibana Crocodilla, deseja um Feliz Natal à todos.  Esses também são os votos desse modesto blog. 

O vídeo também contou com a presença de Marcos Dank (Trem Fantasma)

Segue o vídeo feito pela galera da Crocodilla:


domingo, 16 de dezembro de 2012

Futebol Lado B



Num sábado, pelas proximidades do almoço, ver as ruas de Santa Felicidade bastante movimentadas é uma constante. O tradicional bairro curitibano, famoso pelos seus restaurantes, atrai milhares de almas famintas, todos os dias, mas é claro que nos fins de semana o bicho pega de um jeito diferente.

Desta vez, porém, há alguma coisa a mais. Até mesmo quando as principais cantinas, de “origem” italiana, são ultrapassadas, os paralelepípedos continuam a apoiar um estranho congestionamento por ali. Para qualquer outra pessoa seria, de fato, caso de não se entender aquilo. Contudo, no nosso, era mais do que compreensível.

Localizado em Santa Felicidade, o Estádio Francisco Muraro, pertencente ao Trieste Futebol Clube, recebeu, no último sábado (17/11) a finalíssima da Copa Suburbana de Curitiba. Aos desavisados, estamos falando do campeonato de futebol amador disputado pelas equipes dos mais diversos bairros da cidade. E quando se fala em futebol amador, talvez esteja se tratando de um dos últimos suspiros daquela faceta romântica e autêntica do esporte bretão, que as novas gerações não tiveram a oportunidade de conhecer. E isso se percebe tão logo se compra o convite (nada de cartões magnéticos ou ingressos), a “cincão”, para se assistir a partida. Aliás, as folhas A4 penduradas na bilheteria, com o preço da entrada, deixam bem claro que aquela é uma ocasião especial, e que os R$ 5,00 são a título de “colaboração”, como consta expressamente nos anúncios.

Lá dentro, a fumaça do "churrasquinho de gato" se mistura a camisas dos mais variados times. Ainda que a disputa do caneco esteja a cargo de Iguaçú e Bairro Alto, aficionados não deixam de lado as suas paixões principais, com um detalhe bastante interessante: não raro se nota apoiados, lado a lado, no alambrado, coxas e atleticanos, que conversam, riem e alimentam a utopia de gente como este que vos escreve, de um dia ainda ver isso como regra, e não exceção. Um pingo da rivalidade sadia, no mar de barbárie e idiotice que tomou conta das torcidas, no chamado “futebol moderno”. Aliás, é com o álibi do caos e do vandalismo, que hoje proíbem o torcedor brasileiro de tomar a sua cerveja nos estádios. Há falta de tato da polícia, abusos das facções organizadas, impunidade aos infratores e a culpa é... Da cerveja. Cerveja, inofensiva, companheira de todas as horas e que, ao menos numa partida de Suburbana, jamais nos faltará. Ali a cerveja, por sinal, custa menos do que a água mineral com a qual te extorquem em qualquer estádio do Brasil. Não por menos, quando o sorveteiro lista os sabores para um senhor que aguarda o início da partida, houve um sincero “não quero sorvete não, eu quero é cana”.

Como em qualquer mero bate bola, preparativos precedem o culto. Guardadas as devidas proporções estruturais, no futebol amador também há repórteres de campo, policiais fazendo exibições mais do desnecessárias de suas armas, técnicos, massagistas e é claro, o eterno e indispensável vilão dessa história toda: o juiz (ou árbitro, como prefere a sumidade, Arnaldo César Coelho). Diferentemente da realidade profissional, porém, todos aqueles se comunicam constantemente com a torcida, e de tempo em tempo o bandeirinha vem cumprimentar um camarada que lhe chama no alambrado. Uma senhora bateria de foguetes é então disparada, sendo que alguém tropeça no arranjo, e aí dá-lhe rojão estourando para cima de todo mundo. Os mais pessimistas diriam que se deu ali o lance mais emocionante da partida, que ainda nem começou.

Rola a bola. Os buracos no gramado, o cabelo branco do goleiro e a ausência (é, ou não é, uma benção?) das chuteiras coloridas-sofisticadas-cheias-de-nove-horas, te confortam com o fato de que sim, isso é futebol amador. Porém, não há como deixar de lado os “flashbacks” em relação ao futeba profissional. O principal deles, por óbvio, se dá quando alguns rostos conhecidos são identificados na “peleja”. Do lado do Iguaçú, por exemplo, estavam Laércio (autor do primeiro gol do Coritiba na Libertadores de 2004) e Luizinho Neto (ex-lateral bastante comemorado pelos atleticanos), e no do Bairro Alto Rogério Corrêa (Campeão Brasileiro pelo Atlético em 2001) e Edmilson (ex-atleta de Coritiba e Palmeiras). Hoje, a Copa Suburbana conta com cerca de vinte ex-atletas profissionais, e a logística das equipes caminha cada vez mais em direção ao... Profissionalismo. Ainda assim, a média de treinamentos dos times que participam do torneio não ultrapassa duas sessões semanais – que acontecem, geralmente, no período noturno, a fim de possibilitar que os atletas desempenhem outras funções profissionais (eita palavrinha do djanho!) durante o dia.

Num jogo pegado, de ares ainda mais dramáticos por culpa da chuva e de um par de expulsões, o Iguaçú, com um gol assinalado pelo já citado Laercio, ainda no primeiro tempo, leva a melhor. A festa da equipe de Santa Felicidade, para os heróis do título – já com o troféu em mãos – toma boa parte do estádio, além, é claro, das suas imediações. E na volta para casa, todos, sem exceção, levam consigo uma certeza que, de tão certeza, se transforma em verdade absoluta: fomos testemunhas, por mais noventa minutos, daquilo que costumam chamar de futebol – em seu estado mais puro, sincero e brilhante.
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